terça-feira, 30 de novembro de 2010

Prosa de Drummond


Hoje não escrevo

     Chega um dia de falta de assunto. Ou, mais propriamente, de falta de apetite para os milhares de assuntos.
     Escrever é triste. Impede a conjugação de tantos outros verbos. Os dedos sobre o teclado, as letras se reunindo com maior ou menor velocidade, mas com igual indiferença pelo que vão dizendo, enquanto lá fora a vida estoura não só em bombas como também em dádivas de toda natureza, inclusive a simples claridade da hora, vedada a você, que está de olho na maquininha. O mundo deixa de ser realidade quente para se reduzir a marginália, purê de palavras, reflexos no espelho (infiel) do dicionário.
     O que você perde em viver, escrevinhando sobre a vida. Não apenas o sol, mas tudo que ele ilumina. Tudo que se faz sem você, porque com você não é possível contar. Você esperando que os outros vivam para depois comentá-los com a maior cara-de-pau (“com isenção de largo espectro”, como diria a bula, se seus escritos fossem produtos medicinais). Selecionando os retalhos de vida dos outros, para objeto de sua divagação descompromissada. Sereno. Superior. Divino. Sim, como se fosse deus, rei proprietário do universo, que escolhe para o seu jantar de notícias um terremoto, uma revolução, um adultério grego - às vezes nem isso, porque no painel imenso você escolhe só um besouro em campanha para verrumar a madeira. Sim, senhor, que importância a sua: sentado aí, camisa aberta, sandálias, ar condicionado, cafezinho, dando sua opinião sobre a angústia, a revolta, o ridículo, a maluquice dos homens. Esquecido de que é um deles.
     Ah, você participa com palavras? Sua escrita - por hipótese - transforma a cara das coisas, há capítulos da História devidos à sua maneira de ajuntar substantivos, adjetivos, verbos? Mas foram os outros, crédulos, sugestionáveis, que fizeram o acontecimento. Isso de escrever O Capital é uma coisa, derrubar as estruturas, na raça, é outra. E nem sequer você escreveu O Capital. Não é todos os dias que se mete uma idéia na cabeça do próximo, por via gramatical. E a regra situa no mesmo saco escrever e abster-se. Vazio, antes e depois da operação.
     Claro, você aprovou as valentes ações dos outros, sem se dar ao incômodo de praticá-las. Desaprovou as ações nefandas, e dispensou-se de corrigir-lhe os efeitos. Assim é fácil manter a consciência limpa. Eu queria ver sua consciência faiscando de limpeza é na ação, que costuma sujar os dedos e mais alguma coisa. Ao passo que, em sua protegida pessoa, eles apenas se tisnam quando é hora de mudar a fita no carretel.
     E então vem o tédio. De Senhor dos Assuntos, passar a espectador enfastiado de espetáculo. Tantos fatos simultâneos e entrechocantes, o absurdo promovido a regra de jogo, excesso de vibração, dificuldade em abranger a cena com o simples par de olhos e uma fatigada atenção. Tudo se repete na linha do imprevisto, pois ao imprevisto sucede outro, num mecanismo de monotonia... explosiva. Na hora ingrata de escrever, como optar entre as variedades de insólito? E que dizer, que não seja invalidado pelo acontecimento de logo mais, ou de agora mesmo? Que sentir ou ruminar, se não nos concedem tempo para isso entre dois acontecimentos que desabam como meteoritos sobre a mesa? Nem sequer você pode lamentar-se pela incomodidade profissional. Não é redator de boletim político, não é comentarista internacional, colunista especializado, não precisa esgotar os temas, ver mais longe do que o comum, manter-se afiado como a boa peixeira pernambucana. Você é o marginal ameno, sem responsabilidade na instrução ou orientação do público, não há razão para aborrecer-se com os fatos e a leve obrigação de confeitá-los ou temperá-los à sua maneira. Que é isso, rapaz. Entretanto, aí está você, casmurro e indisposto para a tarefa de encher o papel de sinaizinhos pretos. Concluiu que não há assunto, quer dizer: que não há para você, porque ao assunto deve corresponder certo número de sinaizinhos, e você não sabe ir além disso, não corta de verdade a barriga da vida, não revolve os intestinos da vida, fica em sua cadeira, assuntando, assuntando...
     Então hoje não tem crônica.

(CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE)

BREGA X CHIQUE

O divertido confronto entre os “bregas” e os “chiques” demonstra o choque entre cultura erudita e cultura de massa, e se reflete na conduta da sociedade.

            Sabemos que a cultura de massa é aquele que está ao alcance do “povão”, muitas vezes se mistura à cultura popular, que é baseado em crenças empíricas (experiências da própria vida) e no senso comum, se demonstra através de tradições regionais como o folclore, buscando a preservação de costumes populares de certa região. A cultura de massa, com forte influência da popular e erudita, se manifesta (do jeito que pode) na comunicação e nos diversas artes com uma identidade pessoal, cômica e muitas vezes apelativa de cada sociedade, o que causa um choque com a cultura Erudita.
            Com o caráter de superioridade, a cultura erudita se demonstra totalmente etnocêntrica – pois ela se tem como base padrão para julgamento – e vê a cultura popular apenas como apenas o folclore (preservando algumas tradições), e condena a cultura de massa, chegando ao ponto de condená-la apocalíptica. Sob influência de pensamentos Iluministas, os eruditos, “cults”, chiques ou como quer que os chamem, eles acreditam que “ter cultura é possuir conhecimento letrado das ciências.” (visão Iluminista Moderna), e deram um tom bem pejorativo ao termo “brega” . Mas se ser brega não é legal,então por que vende tanto? Por que todo mundo quer ser pop? (menos os cults, claro!).
            A cultura de industrial, correspondendo à vontade do mercado capitalista (que é sustentado pela grande massa e uma pequena parcela de eruditos), usou essa necessidade do povo de ter sua identidade a seu favor. Inspirados em movimentos revolucionários como os hippies, e misturando a uma irônica imitação da forma chique de ser, o povo vai a cada dia aderindo o brega como uma forma de se expressar diante a sociedade e contra o menosprezo que sofre dela. Assim o “produto do ridículo”, como é considerado pelos eruditos, movimenta o capital e traz benefícios materiais e morais pra sociedade , que no caso do nosso país, tudo de um “jeitinho bem brasileiro”!
            Através dessa metáfora da sociedade chique, a cultura de massa demonstra como seria se os papeis fossem invertidos, trazendo um tom descontraído para a questão da realidade da sociedade brasileira. Com ambiciosos exageros e canastrisses da etiqueta, as massas encontram na imitação uma capacidade de superação, demonstram seu protesto contra o preconceito e a descriminação, característicos do etnocêntrico pensamento erudito.
            Esse divertido conflito entre brega e chique causado pelo choque entre as culturas de massa e erudita traz benefícios a sociedade no setor capitalista, que lhe é atribuído o trabalho de atender as necessidades básicas tanto da massa como dos eruditos, valorizando a cultura popular e em certas vezes homogeneizando e de outras vezes causando conflitos entre as múltiplas culturas da sociedade. Ser brega ou chique, heis a questão... a Monaliza é pop?

FILOSOFIA



            Filosofia, palavra de origem grega (Philo= amor, Sofia= sabedoria), que significa o amor (busca) pela sabedoria. Ela é “como se fosse uma arvore onde as raízes são a metafísica, o tronco é a física e os ramos são todas as outras ciências que se reduzem a 3 principais: medicina, mecânica e moral”, (DESCARTES, Princípios da filosofia).
             A fiosofia se faz de por discursos e raciocínios que designam idéias gerais, noções que tendem a uma verdade necessária e universal. Em uma visão aristotélica, a filosofia é como uma “poesia ao contrario”, ou como dirá Montaign “é a poesia perfeita”, pois atinge o real apenas pelo abstrato e universal.
            Ela não pode ser definida como um criador de conceitos, pois pode-se criar coneitos sem filosofar. Este ato apenas faz parte do trabalho filosófico, tudo é incerto. Ela não é um saber a mais, é uma reflexão dos saberes e seus limites. Filosofar é pensar mais longe do que se sabe ou pode saber, é questionar, é buscar o próprio pensamento.
            Em sumo, a filosofia é uma pratica teórica discursiva, ravoavel  abstrata, conceituável e não-cientifica que submete à razão e visa pensar, refletir e questinar tudo aquilo que sabemos ou ignoramos. E tem como foco o Todo e o Homem.
...

            A filosofia é a busca pela sabedoria. Ela é um exercício de reflexão do homem sobre si mesmo e sobre a realidade, e visa mai tranqüilidade para a vida dos seres humanos.
            A filosofia se faz por meio do dialogo, onde por meio de palavras, as pessoas podem refletir, questionar e compreender melhor uma realidade. A filosofia está relacionada a criação de conceitos e teses que explicam verdades necessárias e universais.
            E através dela que o homem compreende que é um ser biológico e sociável. E é ela quem nos responde as questões da vida. Com isso, a filosofia se demonstra como atividade racional e importante para a vida humana.
            A filosofia não pode mudar o mundo, mas pode criar pensamentos que possam levar a essas mudanças. Seu objetivo é fazer do homem um ser dotado de pensamento livre e poder proporcioná-lo uma vida mais tranqüila e feliz.

As primeiras madrugadas de mãe


                Ser mãe é um barato, mas também dá um trabalho... E realmente o que todo mundo diz que “depois que você tem um filho, nunca mais vai dormir uma noite de sono sossegada” é verdade. Mesmo que você durma feito pedra, há uma espécie de instinto que deixa uma parte do seu cérebro ligado, e qualquer “uen” que seu filho dá você acorda. E comigo não é diferente, como foi o caso...
                Pois é, madrugada de sábado pra domingo, quase 4h da manhã, enquanto eu sonhava na minha cama, ao lado no berço meu filho começava a se espreguiçar, quando de repente ele solta aquele pum que parece um adulto preso há uma semana, ai começa: “Eh... Eh... ehn... Uennnn...” e eu acordo azoada. Ligo a luz e ele ta lá com aquela cara que não tá gostando, e com toda paciência do mundo vou procurar o motivo: fome não é, nem frio nem calor, nem dor... Ah, é a frauda suja! – e meu filho é abusado, não gosta de ficar sujo não, qualquer coisinha abre logo o berreiro e não pára enquanto não for trocado.
                E lá vou eu trocar: tirei a frauda suja, limpei direitinho, e durante o processo ainda tenho que ficar fazendo gracinha: “meu cocozinho chocante!”, “meu menininho lindo!” – tem que fazer festa né ( não sei por que a gente insiste em falar feito menino pequeno pra tentar se comunicar com eles, mas parece que eles gostam...). Aí quando termino de colocar a frauda e deixo bem bonitinho pra voltar a dormir ele se espreguiça e se espreme de novo e pronto: outro “pum premiado” daquele. Eu fico um pouco indignada, mas quando olho pra ele, ele ta dando aquele sorrisinho banguelo que faz qualquer um se derreter. Fazer o quê, né?! Paciência... Lá vou eu trocar de novo. E no meio do processo ele se espreme de novo e solta um tiro que parece o que Bin Laden queria dar a Bush no 11 de setembro! Melou tudo: ele, a roupinha dele, meu braço, minha roupa, o lençol da cama, a grade do berço, o lençol do berço, tudo... foi uma cagança geral!
                 – ...mas que merda! – pensei, literalmente. E por onde começar a limpar? E lá fui eu: tive que limpar ele, depois dar um banho nele (é, que só lencinho umedecido e algodão com água não resolvia, o estrago foi grande mesmo). Depois fui limpar o berço, trocar o lençol do berço, acordar o marido pra trocar o lençol da cama e enfim poder tomar um banho também. E depois de toda essa maratona, ainda vou dar de mamar para ele ir dormir tranqüilo, e não adianta, por mais que pareça um saco, não há chateação nem raiva, mas sim uma sensação de dever cumprido, e um alívio misturado com orgulho quando eu o vejo pegando no sono de mansinho e esboçando aquele sorrisinho lindo até adormecer. Nesse meio tempo eu já perdi o sono, o dia começa a amanhecer... éh, só me resta lamber minha cria e admirar... e esperar que mais um dia comece...
                Vida de mãe não é fácil, mas vale à pena... E só de pensar que a gente cuida tanto e depois que cresce manda a gente se... bem, mas mãe serve pra isso mesmo. É nosso dever cuidar, educar, amar, proteger e preparar pro mundo e esperar que cresça e se torne uma pessoa feliz e saudável. E enquanto der trabalho, tudo bem, filho só não pode trazer decepção, e para isso, eu sei que o exemplo parte de mim que sou mãe.
(crônica baseada em fatos reais, por TASMARIA)